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Uma rotina que mais parece uma mania, toma conta de pastores que são convidados para pregarem em outras igrejas. A quase totalidade deles ensaia gestos, frases de efeito e outros recursos que podem motivar ou emocionalizar os presentes. Cada um tem a sua própria maneira de “aparecer”, enquanto que outros procuram imitar, especialmente os pregadores famosos que aparecem na TV ou que se encontram disponíveis em fitas de vídeo. É comum a ideia de que na congregação onde vão pregar não existe ninguém que lhes compare, ou que possa fazer alguma diferença.

A ideia central é de que o pastor, vindo de fora, sempre carrega na bagagem alguma coisa nova, desconhecida (?) das lideranças locais, e ainda, que ele é o melhor, pois do contrário não teria sido convidado para pregar. Orgulhosos, se apresentam com uma áurea de fazer inveja a qualquer um. Estufam o peito até para o início corriqueiro de uma saudação: Ah, como estamos felizes por estarmos aqui... Amém? Amém Igreja?

Nestas voltas que o mundo dá, um belo dia chega à cidade de Araguaína (TO), um desses pastores importantes, olhar arrogante, cheio de si, como se fosse realmente uma grande autoridade espiritual. Recebido na condição de pastor, a igreja se cuidou de trata-lo bem, com verdadeiro amor, mas ele resolveu entender que o tratamento era em decorrência do seu próprio valor, e não como uma prática da igreja.

Passadas as primeiras emoções, a igreja se preparou com orações para o culto à noite, para receber a Palavra que seria ministrada. Com alguns minutos de atraso para ressaltar a sua importância, o pastor fez as saudações de costume, e antes mesmo de ler o texto sagrado, fixou seus olhos em um dos lados do púlpito e disse com energia: “Quieto aí, diabo. Está amarrado em nome de Jesus”. Leu enfim o texto da Palavra, mas antes de iniciar a pregação propriamente dita, fixou os olhos no outro lado do púlpito e repetiu a mesma frase com a mesma energia: “Quieto aí, diabo. Está amarrado em nome de Jesus”. Em sua mente a igreja estava preparada emocionalmente para a pregação. A pequena encenação havia chamado a atenção desejada.

Terminada a pregação ele mesmo fez a oração final encerrando o culto, dando-o por terminado. Foi aí que um pastor jubilado da igreja, cabelos brancos, cheio de unção e sabedoria, chamou a atenção do pastor convidado para pregar naquela noite: “Espere um momento. O senhor ainda não encerrou o culto. Ainda está faltando uma coisa...”

“Não está faltando nada”, responde o convidado. “O senhor está equivocado...”. “Estou equivocado não. O senhor precisa terminar o culto com o que está faltando fazer...”. “Afinal de contas”, diz ele, “o que está faltando para encerrar o culto?”. “Desamarre os dois diabos que o senhor amarrou e deixou ali nos cantos. Mande-os embora desta igreja”. (texto publicado no Jornal O Caminho, 2000, autoria de Ana Cleide Fontenelle)